Uma longa sequência de baixas – inesperadas – e, logo, uma nova leve subida. A cotação da moeda americana nos primeiros meses de 2025 tem sido instável o que faz muitos brasileiros se perguntarem qual o melhor momento para construção de patrimônio em dólares.
O dilema de alguns vai além: por que construir patrimônio financeiro na moeda americana? Será que isso é pra mim?
Levamos algumas perguntas comuns desse contexto à fundadora e CEO da Glina, Michelle Veronesi. Com mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro, liderando grandes times de vendas e produto, Michelle é expert em estruturação de produtos offshore.
Confira a seguir.
- Depois de uma sequência de baixas, o dólar voltou a subir, você recomenda esperar uma nova baixa para começar a proteger patrimônio em dólar?
Michelle: Eu costumo dizer que o melhor dia pra construir patrimônio em dólar foi ontem. Me pergunte amanhã e te responderei o mesmo. É simples assim. Quem ainda não começou esse movimento, tem que começar agora. Não tem de esperar uma nova baixa. - Qual a lógica por trás da sua orientação? Por que não faz sentido esperar uma nova baixa? Explique melhor.
Michelle: O cenário muda constantemente e é pouco previsível. A estratégia é colocar pontualmente o dinheiro, para mitigar o impacto de uma alta repentina. Colocando aos poucos se garante um desempenho geral bom.
De 2013 a 2022, o dólar valorizou, em média, 10% ao ano frente ao real. Quem tem ativos globais aproveitou esse ganho extra.
Se o próprio Brasil, como país, tem reservas em dólar, por que nós, brasileiros, não teríamos? Segundo relatório do J.P. Morgan, 60% das reservas do mundo estão em dólar. - Nessa linha faz sentido dizer que “quem não converte não protege”?
Michelle: Cada vez mais estudos e números aparecem para corroborar aquilo que venho defendendo em mais de 20 anos de atuação no mercado financeiro: proteger parte do patrimônio em moeda forte é uma estratégia lógica.
A recomendação não é ter 100% do patrimônio em outra moeda, mas uma parte dele é fundamental, até para proteger nosso poder de compra diante da desvalorização do real.
Um recente estudo da FGV revelou que – no mínimo – 16% do patrimônio financeiro dos brasileiros deveria estar em moeda forte. De forma ainda mais intensa, no mês passado, o Itaú Unibanco revisou sua orientação aos investidores, sugerindo uma exposição ao exterior de até 45% da carteira. - Quando você fala de proteção de patrimônio, que outros aspectos estão incluídos nesse conceito, além do fator cambial?
Michelle: O conceito de proteção passa pelo câmbio, mas esse não é o único aspecto que merece nossa atenção. Todo brasileiro deve ter fácil acesso a estruturas offshore que estejam baseadas em territórios mais estáveis, mitigando assim riscos como uma possível instabilidade jurídica e tributária que pode ocorrer em países em desenvolvimento.
Que conselho você daria pra quem ainda não está convencido sobre a importância de proteger patrimônio?
Eu diria para pesquisar mais sobre o assunto. O brasileiro é um dos povos com viés doméstico mais forte na hora construir patrimônio financeiro, segundo pesquisa do International Monetary Fund divulgada pela corretora americana Charles Schwab. Somente se informando e buscando alternativas mudaremos esse quadro.
A diversificação internacional de patrimônio melhora a relação risco-retorno ao reduzir o risco da carteira. Esse é outro insight do mesmo estudo já mencionado da FGV. Além disso, a diversificação permite distribuir ativos por diferentes regiões, como Ásia, Europa, Américas e Oceania, minimizando o impacto de crises locais e aproveitando oportunidades de crescimento regional. É hora dos brasileiros se abrirem para essas oportunidades.